Você pode esquecer de tudo, menos do nosso ideal
Quando chegamos no Espiritismo, muito provavelmente estávamos buscando algo maior. Algo para suprir uma necessidade interna que não estava sendo atendida. Chegando a uma casa espírita, nos deparamos com os programas da Aliança - a Assistência Espiritual, a Escola de Aprendizes do Evangelho ou um programa Infanto-Juvenil. E isso nos fez muito bem.
Esses programas foram conduzidos por voluntários experientes, que dominavam muitas técnicas, com muito conhecimento aplicado da doutrina. Naturalmente, na nossa vontade de progredir, imitamos eles. Afinal, isso é uma forma de aprendizado humano.
Até que viramos servidores - e o lema ensinado foi “trabalhar, trabalhar, trabalhar”. Alguns acabam trabalhando cada vez mais e mais.
Até que uma hora, o trabalho parece pesado. Chega um momento em que são tantas tarefas, dias de trabalho, cursos e atividades. E, pra piorar, a falta de voluntários nos trabalhos deixa a coisa ainda mais difícil. Basta uma pessoa te dizer algo “meio torto” para nos melindrarmos. E a vontade é de não voltar para aquela casa ou ir procurar outra. Já perdemos um pouco o prazer e o sentido do que estamos fazendo.
Por outro lado, somos cobrados pelo passe correto, a técnica correta, tem que reciclar, não pode atrasar, tem que ter disciplina, não pode faltar.
Isso já aconteceu comigo. Não sei se já aconteceu algo parecido com você, ou se já viu alguém nessa mesma situação.
O problema dos ‘espíritas mecânicos’
Pode ser que, neste momento, estejamos nos esquecendo do “PORQUÊ” começamos nesse movimento, qual a correta motivação e propósito que pode nos guiar. Nos desconectamos de um ideal e viramos espíritas mecânicos. Atuamos de forma automática, onde o mais importante é seguir as regras. Aos poucos, os processos e métodos ganham força, e podemos nos parecer mais com espíritas fariseus.
Se desconectar do nosso propósito é algo muito perigoso, pois perdemos a essência do projeto divino do qual fazemos parte.
Durante uma conversa com amigos do movimento, concluímos que algumas casas estavam sendo esvaziadas. Mas curioso que elas aplicavam o P1 perfeitamente bem, tinham regras de assistência bem definidas — e mesmo assim estavam ficando vazias.
Concluímos o motivo disso: não estávamos mais ajudando as pessoas a resolverem suas dores internas, nem oferecendo o consolo que buscavam. Essas pessoas estavam encontrando em outros centros — ou em outras religiões — o preenchimento do vazio interior, que nos trouxe até a doutrina.
Nossos programas existem para suportar algo maior
Em poucas palavras:
Temos um objetivo maior; Que conseguimos conquistar em Aliança; Através de programas que são ótimos caminhos.
Um Ideal e uma missão maior
Fazemos parte de um projeto maior, de renovação e transição planetária. Somos os trabalhadores da última hora, buscando estar em conformidade com os ensinamentos de Jesus. Estamos, ainda, lutando para construir em nós o Reino de Deus, procurando ser verdadeiros espíritas ou cristãos.
Por isso, nosso objetivo final é trabalhar na evangelização do ser. É buscar o crescimento espiritual: olhar cada vez mais a vida como um espírito, e não apenas como um humano. Nosso plano deve ser retornar para a pátria espiritual melhor do que aqui chegamos.
Com isso, nosso foco deve ser sempre nas pessoas — valorizar, acolher, enxergar o ser humano em primeiro lugar. Beber das três revelações — Moisés, Jesus e o Espiritismo — para transformar nossa vida enquanto ajudamos outras pessoas nesse mesmo processo.
É entender que “fora da caridade não há salvação” e que o maior mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. É assim que seremos avaliados.
O papel da Aliança Espírita Evangélica
Para conseguirmos viver o que está escrito acima, nos unimos em Aliança, para que juntos possamos fazer o que sozinhos seria mais difícil. Nenhuma casa espírita é isolada — todas fazem parte de uma rede unida por um mesmo propósito.
O ideal é que cada trabalho, mesmo pequeno, some ao movimento maior. Difundir o Espiritismo, na atualidade, para reviver os valores e ideias do Cristianismo Primitivo, unindo em torno dessa finalidade, espíritas que compartilhem os mesmos ideais.
Inspirados nas fraternidades do espaço, buscamos aplicar aqui, entre os encarnados, o mesmo espírito de fraternidade. Gosto desse texto extraído da introdução da 1ª edição do “Vivência do Espiritismo Religioso”:
“A Aliança Espírita Evangélica foi criada para efetivar com segurança, sinceridade e desprendimento a tarefa de evangelizar, espiritualizar, pela Reforma Íntima, os alunos que desejam se tornar, futuramente, verdadeiros Discípulos do Divino Mestre, integrando-se na Fraternidade dos Discípulos de Jesus – FDJ, campo aberto e livre para as exemplificações, na Terra, dos ensinamentos do Cristo.
Visa formar colaboradores espiritualizados, libertos da cegueira e do fanatismo científico ou religioso, aptos, portanto, a difundir, em espírito e verdade, os esclarecimentos herdados e a orientação espiritual redentora dos que habitam este predestinado País que é o nosso imenso Brasil.”
Como utilizar os programas
Agora chegamos no COMO vamos fazer tudo isso. Quando olhamos a missão da Aliança, encontramos: “efetivar o ideal de vivência do Espiritismo religioso por meio de programas de trabalho, estudo e fraternidade para o bem da humanidade.”
Ou seja, é através dos programas que fazemos tudo isso que foi dito antes. Os programas são ótimos meios para alcançar nossos objetivos. O problema é que, muitas vezes, tratamos esses meios como fins — e passamos a medir o sucesso pela aplicação perfeita do programa.
Eu mesmo já me perdi sendo “guardião das regras” e percebi o quanto isso afasta as pessoas que buscam consolo. Lembrando, as regras são meios, e não fins.
Certa vez, ouvi de um aluno: “Não vejo a hora de terminar o curso para ir para uma casa pequena e poder trabalhar diferente”. Explorando o assunto, percebi que, no fundo, ele estava cansado da rigidez que muitas vezes impomos no dia a dia.
O curioso é que esse não é o propósito de muitos que estão há anos na Aliança — mas algo se perde no caminho. Entre a definição dos programas, as intenções e a aplicação prática, o ideal muitas vezes se dilui, e as regras ganham força.
É claro que, seguir os programas com disciplina e compromisso é importante — quase sempre isso nos levará ao objetivo final. A disciplina tem um papel essencial, mas é apenas um meio.
O verdadeiro trabalho é pelas pessoas
Devemos ter cuidado para não esquecer no dia a dia o nosso ideal maior e o porquê da Aliança existir. E de não cair na armadilha de focar apenas no método, no programa e nas regras, criando um sentimento de que “se não está de acordo com o programa, está errado e deve ser combatido ou reciclado”.
Me faço essa provocação constantemente: estou sendo um espírita mecânico ou um trabalhador que vive por um ideal maior? Se fôssemos chamados a fazer a passagem hoje, será que seríamos colocados à direita ou à esquerda de Jesus? Estou me referindo ao evangelho de Mateus 25:34-40.
“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes me ver.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
O ideal da Aliança é mais do que um método — é um chamado para sentir, servir e transformar.
Que possamos reencontrar o sentido do que fazemos, lembrando sempre que o verdadeiro trabalho não é pelo programa, mas pelas pessoas, através dos programas. E, se queremos atender cada vez melhor isso, sim, vamos buscar entender e praticar os programas, mas nunca esquecendo que nosso objetivo maior é ser um movimento de almas que escolheram caminhar juntas, em nome do amor e da luz de Jesus, através do Espiritismo.
Antonio Costa é do CAE Geraldo Ferreira e do Jesus Amor Infinito