Esperança e suas duas filhas

Esperança
“A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; e a coragem, a mudá-las.”
Santo Agostinho

Todos nós passamos por momentos de desafios e aflições em nossa vida, muitas vezes nos conduzindo à apatia e ao desânimo, acabando por automatizar as nossas ações no cotidiano, desejando soluções rápidas e certeiras que aliviem e encerrem as nossas dores e fardos. Mas é necessário recordarmos que somos espíritos em uma viagem educativa com data de regresso à pátria espiritual.

Desejamos chegar ao nosso destino sem ter caminhado pela estrada.

Caminhar em nossa estrada progressiva e redentora, durante nossa reencarnação, nos oferece tanto as paisagens belas e estimulantes, como as pedregosas e desafiadoras. Ambas compõem o contexto de nossa condição atual.

Aqui nos encontramos em uma trilha educativa, para a aquisição de valioso patrimônio evangélico renovador, onde as diferentes paisagens agregam elementos reconstrutores para o nosso íntimo.

É lógico que, pela nossa atual condição de espíritos em construção, os obstáculos são remédios necessários, presentes em nossa vida operando como sinalizadores, para tudo que carece de aprimoramento interior e que estão impedindo, desequilibrando e dificultando a nossa progressão espiritual. Hoje vivemos a colheita do que semeamos no passado.

Na estrada educativa da reencarnação, nos deparamos com adversidades múltiplas, sentindo não possuir o vigor necessário para o bom combate. Passamos a criar uma imagem enevoada de nossa existência, mecanizando os nossos dias e perdendo o rumo real da nossa existência, numa supervalorização do campo externo.

É nesse momento que precisamos refletir sobre o conteúdo da frase de Santo Agostinho. Ele indica na esperança o fortalecimento renovador para esses momentos.

Dias melhores virão

A esperança caminha de mãos dadas com a fé raciocinada em uma relação complementar, onde quem tem fé, tem esperança em dias melhores, reconhecendo a ação misericordiosa do Pai Criador, que não alimenta seus filhos famintos com pedras, mas com o pão restaurador e renovador para o espírito.

A esperança não é inação, não é espera contemplativa de um salvador, não nasce como solução no campo externo, mas é uma força motriz íntima e essencial, que pode pela razão e vontade, dar novo panorama para a nossa estrada, possibilitando as soluções necessárias à nossa saúde espiritual. Ela indica um movimento intencional, uma decisão firme, visando a concretização de ações.

A esperança, para Santo Agostinho, é olhar para o futuro, para a nossa caminhada espiritual com indignação para as pequenezas do mundo que ainda alimentamos em nosso íntimo, tendo coragem de romper e promover as transformações necessárias, para que possamos cumprir a nossa destinação, de retornar ao nosso Pai Criador na plenitude de tudo aquilo que ele nos concedeu, na essência de nosso espírito.

Santo Agostinho destaca a indignação e a coragem como filhas lindas da esperança, e precisamos reconhecer que ambas contemplam uma decisão e uma ação.

A indignação nos faculta o reconhecimento da necessidade de mudanças. É a decisão racional para a geração de novas possibilidades em nossa vida. Mas não com base na ação da rebeldia que é embotada em si mesma pela vitimização e orgulho, que não produz resultados consistentes e positivos.

Já a coragem, que está intimamente ligada à nossa vontade, essa força moral, que quando bem empregada, aciona a confiança e a perseverança na firmeza do espírito para as ações transformadoras, que se iniciam no campo íntimo refletido no campo externo de nossas vidas.

Que nos dias tempestuosos, possamos levantar e seguir, em nossa estrada rumo à renovação de nossas paisagens internas e externas.

Carmen Heloisa Armani é da equipe de O Trevo

Navegue:

Compartilhe: