
Lá estava ele, seu filho, Mestre dos Mestres no amor do Pai, pendurado numa cruz um pouco à frente de duas outras sobre o gólgota… algumas poucas pessoas encarnadas acompanhavam de longe… inúmeras desencarnadas de perto, também representantes de outras moradas da casa do Pai, como embaixadoras da Luz, para assistirem ao grande acontecimento, onde a força do amor faria uma alma tornar-se um sol.
Aquele coração apertado que “junto da Cruz, a voz agonizante de Maria produzia dolorosa e indelével impressão. Com o pensamento ansioso e torturado, olhos fixos no madeiro das perfídias humanas, a ternura maternal regride ao passado em amargurosas recordações. Ali estava, na hora extrema, o filho bem-amado.” (“Boa Nova”, Humberto de Campos – cap. 30 - Maria).
Depois da crucificação e após o período em que Jesus se manifestou e traçou orientações aos apóstolos e na sequência da partida dos mesmos para a divulgação da Boa Nova, Maria se estabeleceu em Bataneia ou Betânia, aquela cidade onde havia parentes próximos e a mesma onde Jesus restabeleceu Lázaro. Permaneceu por lá com parentes enquanto João se organizava para recebê-la em Éfeso, na Turquia.
Voltemos um pouco no tempo e falemos de Sophia, um espírito de esferas elevadas, “que já percorreu muitas pátrias e que conhece inúmeras estrelas… que estava circundada de uma luz azul-celeste, franjeada de verde-claro com algumas estrias de amarelo solar, deixava notar o equilíbrio dos seus sentimentos, pela vibração do seu fulcro mental...” (“Maria de Nazaré”, Miramez – cap. 3 - Seareiros do Bem).
Sim, Sophia era o espírito de Maria antes da reencarnação e que já trabalhava na preparação da esfera espiritual para a chegada de Jesus e, segundo Miramez, veio trabalhar somente no exemplo, força e poderosa que a sabedoria do coração sua com provérbios.
A Infância de Maria
Miramez ainda nos conta que Maria, aos 7 anos de idade, inspirada por benfeitores espirituais, já orientava familiares, parentes, amigos e rabinos. Nos instigava, e instiga ainda, a não fechar o canal da intuição que o progresso nos pode ofertar, que o equilíbrio dos valores é processo de milênios e conquista na área do tempo. (Nota do autor: o “tempo” é um assunto muitíssimo interessante e será discutido em artigo posterior).
Nos traz também que a alimentação dos nazarenos era mais vegetariana, sendo a carne escassa e pouco usada, o pescado era mais desejado, porém muito difícil, pois o lago de Genesaré ou Mar da Galileia ficava a mais de 20 quilômetros de distância e era caro, sendo o queijo um dos principais alimentos, o leite, o mel e o pão integral comido geralmente com azeite e grão-de-bico. Além disso, o ambiente espiritual que havia sido limpo, trazia na respiração um clima delicado e suave do ambiente por onde passavam diversas entidades angelicais.
Ainda em sua infância em Nazaré, Maria ensinou e exemplificou ensinamentos elevados, sempre inspirada na intuição e por entidades angelicais como quando ainda criança disse: “Deus fez tudo com harmonia, deixando uma pequena parte para nós, e mesmo essa parte é preciso que Ele nos ajuda a fazer, sendo poucos os que entendem esse dever de filho de Deus!”
Ou ainda quando seus pais a descobriram dormindo em êxtase: “Maria ressonava suavemente. Em seu lábios, um suave sorriso embelezava seu rosto angélico; com os olhos cerrados, parecia em êxtase. Em torno dela, notava-se uma onda de luz azul bem visível aos olhos dos pais, com franjas douradas em um linhão de estrelas minúsculas girando, qual chuva de prata. Ana (sua mãe) chegou a ouvir uma música que dizia não ser da Terra…”
Quando foi convidada a estudar no Templo em Jerusalém, a mais de 120 quilômetros de Nazaré ou alguns dias de caminhada, e inspirada por uma luz em forma de estrela que se aproximou dela e se confundiu com a mesma, nos trouxe uma descrição de Deus linda e profunda que não compete transcrevê-la aqui, mas convidar o leitor a meditar no capítulo 12, Na escola do Templo, do livro de Miramez. Maria foi também amparada e instruída pelos essênios.

Interessante ainda a menção de que José foi escolhido no plano espiritual porque estava pendente, nas dobras do tempo, uma dívida para com o abençoado espírito de Maria. Isso nos remete a pensar que as leis divinas são fortemente influenciadas pela Sua misericórdia e podemos compensar erros do passado, que todos temos, para com espíritos mais evoluídos.
Quando Jesus veio, as faculdades de Maria desabrocharam de modo a perceber entidades bem mais elevadas em completa vigilância, para manter a ordem no lar. Humildemente disse sobre Jesus... “Quando Ele me chama de mãe, parece-me e sinto que sou sua filha.”
Não teve mais preocupações com seu filho durante seu crescimento, pois sabia que Ele era consciente de seu deveres. Meditava muito no que seria o melhor em suas passos. Começou a observar a própria natureza e isso bastou para tirar lições inesquecíveis sobre a vida dos seres humanos na vida do Criador.
Foi Maria também que começou a visitar o Vale das Flores sozinha, onde viviam os hansenianos segregados da sociedade. Eram mais de 300 leprosos, que moravam em cabanas improvisadas e em cavernas feitas pela própria natureza. Eram homens, mulheres e crianças em situações terríveis! A escravidão no Egito era como o céu em comparação ao Vale das Flores.
Maria trouxe esperança e levou seu filho ao local ampliando muito esta esperança, a base do Evangelho. Mostrou que o céu se encontra dentro de nós e seu maior empenho era o de que todos pudessem conhecer esses segredos de Deus.
O Abrigo de João
Voltamos então a Betânia, um vilarejo a cerca de 2 horas de caminhada entre Jerusalém e o Mar Morto, logo atrás do Monte das Oliveiras, que naquele tempo recebe a visita de João retornando de Éfeso explicando que demorara até conseguir uma casa para abrigá-la a cerca de três léguas (cerca de 14 km) daquela cidade na atual Turquia, mas à época pertencente ao Império Romano.

A habitação era simples e pobre e ficava em meio à natureza no alto de uma pequena colina com vista para o mar, de onde trabalhariam exemplificando as verdades do Evangelho. Antes de partir, Maria solicita então a Maria de Magdala que não esquecesse do Vale das Flores, agora conhecida como Cidade das Flores.
A casa onde viveram o apóstolo e Maria, uma choupana conhecida como Casa da Santíssima, foi descoberta no século XIX através da descrição obtida das visões de Beata Ana Catarina Emmerich (1774-1824), uma freira católica, que foi publicada como um livro por Clemens Brentano após a sua morte e reconstruída. A casa é venerada também pelos muçulmanos.
Éfeso foi uma cidade grega antiga na costa de Jônia, província de Esmirna, Turquia. Foi construída no século X a.C. por colonos gregos jônicos. A cidade floresceu a partir de 129 a.C., durante o período romano.
Paulo de Tarso, na sua volta a Jerusalém, onde será preso, percorre as igrejas que fundara e amava, uma delas a de Éfeso, e Maria, avançada em anos, o encontra na despedida emocionante. Um ou dois anos depois, Maria recebeu ainda a visita de Lucas, a pedido de Paulo de Tarso quando esteve preso em Cesareia por volta do ano 58- 60 d.C., para que enriquecesse o Evangelho com seu relato, conforme nos traz Emmanuel no livro “Paulo e Estevão”. O Evangelho de Lucas torna-se, então, o que tem a presença mais forte da mãe de Jesus.
Nota do autor: a segunda parte deste texto será publicada na próxima edição de O Trevo, com informações sobre a Fraternidade Rosa Mística de Nazaré.
Sobre o Autor
Mauro Iwanow Cianciariullo é da Equipe de O Trevo e do CEEA, na Regional Oeste.