
Entendo que, para uma melhor compreensão e reflexão sobre uma palavra, o primeiro passo deve ser investigarmos sua etimologia. É assim que iniciamos esta nossa jornada a respeito do voluntariado. Do Latim, “voluntariu” tem por definição: “que se faz por vontade”.
De todas as virtudes conhecidas que residem no âmago de todos os seres humanos, a boa vontade é a única que não se pode direcionar para finalidades egoístas. A sua motivação (motivo para ação) exige que sua finalidade almeje o bem e, daqui, avancemos mais um degrau em nossa jornada de reflexão.
A Escola de Aprendizes do Evangelho tem como objetivo-chave, através da iniciação espiritual baseada no Evangelho de Jesus Cristo, a renovação do ser através do autoconhecimento, onde, despertando sua consciência, causa uma renovação dos seus sentimentos, que refletem nos seus pensamentos e, por sua vez, mudam suas atitudes.
O convite para essa jornada espiritual é aberto para todos por um único e simples motivo, que aprendemos na Boa Nova e também foi ratificado por Allan Kardec nas obras básicas da Codificação do Espiritismo: todos os espíritos, independente de ações pretéritas (desta ou de outras reencarnações), crença, posição social, etnia ou qualquer outra ilusão que insistimos acreditar para nos vermos separados uns dos outros, tiveram o mesmo princípio e buscam o mesmo “fim”.
A Essência Divina
Dito isto, não é novidade que muitas palavras atualmente perderam seu significado reduzido a uma superficialidade similar a uma poça d’água numa calçada; e o voluntariado, infelizmente, faz parte deste grupo.
Entende-se atualmente por voluntariado como uma simples ajuda social, uma caridade material ou até mesmo como um “quitar” de dívidas de uma consciência pesada. No entanto, essa é uma visão pequena sobre uma nobre atitude, intimamente ligada a valores tão preciosos da Humanidade, como bondade e fraternidade e amor ao próximo.
Existe uma centelha divina em todos nós. Mesmo em uma sociedade errática como a nossa, o cultivo aos valores são defendidos por diferentes religiões e filosofias desde a Antiguidade. Elas fizeram questão de registrar esse sentimento e deixar um rastro dessa essência divina da qual todos nós somos herdeiros.
Da construção de pirâmides que buscam conectar a Terra ao céu no Egito, aos registros arcaicos dos Vedas e à jornada heroica de Arjuna contida no épico “Bhagavad Gita”, da cultura indiana. Da ética trazida por Confúcio e da sabedoria compartilhada por Lao Tsé na China. De Platão e seu “plano das ideias”, onde repousam os arquétipos que inspiram os homens na busca pelo bom, belo, justo e verdadeiro.
Da filosofia moral trazida pelos estoicos, em Roma, até o resgate da condição divina do homem, trazida pelo movimento histórico que conhecemos como Renascimento e muitos outros momentos históricos que infelizmente não há espaço suficiente para detalharmos neste artigo.
O que há de comum em tudo isto é que todos, sem exceção, buscaram recordar a Humanidade de sua origem divina, trazendo para a consciência a recordação do papel que lhe cabe na História. Embora haja diferenças nas formas apresentadas, é possível perceber que a essência de todos é idêntica e a suposta diferença entre os povos não passa de uma mera ilusão.
O Chamado do Coração
Entendemos então que o voluntariado nada mais é do que a expressão autêntica que brota naturalmente no coração daqueles que, buscando deixar de olhar para fora, voltaram seus olhos para dentro. E nesta incrível jornada que chamamos de autoconhecimento, sentem a vocação.
É um chamado do coração a clamar para tocarmos a nota única, que Deus confiou somente a nós, para complementar essa grande orquestra divina que chamamos de vida. Então, que tomemos a nossa lira e façamos parte deste divino concerto e tornemos uníssonos os nossos corações.
Sobre o Autor
Gustavo Neri é voluntário do Centro Espírita Raios de Sol.