Escolas Iniciáticas e os círculos do conhecimento
“Ora, nós sabemos que a verdade foi revelada aos homens progressivamente, por vários mensageiros, em diferentes épocas, e aqueles que a recebiam em certo lugar ou certo momento imaginavam serem os seus possuidores privilegiados, mas agora todos estão compreendendo que são iguais perante Deus, nos direitos e nos deveres e que aquilo que distingue um homem do outro é a sua capacidade individual de perceber as coisas e de adiantar-se mais depressa pelo próprio esforço, no sentido moral. (...)
Mas, como a revelação é progressiva, é provável que dentro de pouco tempo surgirão conhecimentos mais adiantados que os que nos foram até agora revelados." Edgard Armond, em Caminhos do Espírito, Editora Aliança.
O sentido universalista das escolas iniciáticas considera que todos os homens são iguais perante o Criador e merecem oportunidades iguais de crescimento e transformação moral.
Mas nem todos estão interessados, no momento, em fazer esforços para a sua evolução.
Para os interessados, existe a ajuda através das escolas iniciáticas.
A literatura espiritualista apresenta dois conceitos que têm sido amplamente discutidos em diferentes contextos:
- a) Esotérico: conhecimentos profundos destinados a pessoas que estão em processo adiantado de transformação moral. Refere-se a uma forma de conhecimento ou sabedoria oculta, que é reservada apenas para aqueles que atingiram o mais alto grau de evolução para o ser humano. É onde reside a Verdade.
- b) Exotérico: conhecimentos ministrados para as pessoas de vida comum e que foram atraídas pelo desejo de se melhorar. É divulgado de forma aberta e acessível.
Para fins deste artigo, vamos considerar que o conhecimento sublime da Verdade necessita de intermediários para transmissão aos seres interessados em sua melhoria interior.
Veja-se em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 9:
"Qual o homem que pode jactar-se de possuí-la integralmente, quando a área do conhecimento aumenta sem cessar, e cada dia que passa as ideias são retificadas? A verdade absoluta só é acessível aos Espíritos da mais elevada categoria, e a humanidade terrena não pode pretendê-la, pois que não lhe é dado saber tudo, e ela só pode aspirar a uma verdade relativa, proporcional ao seu adiantamento."
Esses intermediários são os expoentes das artes, filosofia e religião, que interpretam a Verdade para as pessoas atraídas pelo desejo de transformação.
Então é conveniente considerar que existe uma faixa intermediária que denominaremos círculo mesotérico do conhecimento.
Há também um círculo externo da humanidade, composto por pessoas comuns que não estão focadas em seu crescimento espiritual.
Neste contexto, o círculo exotérico é diferente do círculo das pessoas de vida comum, pois abrange somente as pessoas que estão interessadas no processo de transformação moral.
Assim, representamos esses círculos pelo gráfico:
O círculo exterior da humanidade abarca a porção da humanidade que privilegia os aspectos materiais em sua vida. Onde não há entendimento comum, cada um fala a sua própria língua e ninguém entende ninguém, nem se importa em ser compreendido.
Há uma parcela menor da população que – ao sentir que os aspectos materiais não preenchem as aspirações de suas almas – são atraídas, através das artes, da filosofia, da ciência ou da religião, para grupos interessados em evoluir mais rapidamente. Este é o meio mais comum de se ingressar em escolas de iniciação espiritual.
Annie Besant, teósofa, em uma conferência, no final do século XIX, relatou que em suas observações de escolas iniciáticas do oriente poderia classificá-las em três grandes caminhos: faquir, monge e iogue. Essas escolas além de não ter muita visibilidade, possuem as características de exigirem de seus adeptos um alto preço a ser pago antecipadamente e de uma só vez, tais como afastamento de suas famílias e da sociedade, algumas exigiam a renúncia a seus bens materiais e outras até o abandono de seu nome.
Essas escolas, dada a personalidade do homem oriental, têm sobrevivido por séculos e até milênios, mas são pouco atrativas para o homem ocidental. Para este têm surgido escolas com condições iniciais mais suaves, como por exemplo, não exigindo o afastamento da sociedade. Ao contrário, é com o convívio social que surgem as melhores possibilidades evolutivas. Tampouco se exige a renúncia aos bens materiais ou a seu nome.
Contudo, no ocidente, pode-se observar que algumas pessoas (que podem pertencer a escolas iniciáticas) exemplificam condições das escolas mencionadas por Annie Besant. Temos os exemplos:
- Para a escola de faquires do oriente observa-se como correspondente, no ocidente, o caminho conhecido como ascetismo, onde o adepto procura ter o domínio das funções físicas, pela superação da dor, transmutando a dor em vontade. Exemplos na atualidade são os alpinistas – que forçam seus corpos até os limites da resistência –, os exploradores que procuram atingir os pontos culminantes do Polo Norte e do Polo Sul ou o iatista que se propõe dar a volta no mundo sozinho.
- Para a escola de monges, a correspondência no ocidente é o que pode ser denominado o caminho do misticismo, disciplina e caridade. É o caminho da procura da iluminação pela superação do medo, transmutando o medo em amor. Neste caminho, o adepto enaltece a obediência à vontade de um superior religioso, a pobreza, o celibato e muitas outras restrições. Para citar poucos exemplos consagrados, nos lembramos de Francisco de Assis e, na atualidade, Madre Tereza de Calcutá e Irmã Dulce.
- Para a escola de iogues, no ocidente observa-se o que se costuma compreender por filosofia. É o caminho do alcance da iluminação pelo domínio da função intelectual. Os exemplos são os grandes expoentes da Ciência.
Os caminhos acima relacionados – ascetismo, caridade e filosofia – podem constituir escolas ou podem ser seguidos por indivíduos independentes.
Nessa abordagem, os círculos do conhecimento seriam compostos por:
- Círculo esotérico: composto por entidades com conhecimento da Verdade e que não teriam mais necessidade de reencarnar em mundos materiais como o nosso.
- Círculo mesotérico: composto por profetas, messias e guias (médiuns com alto grau de espiritualização) que recebem orientações diretamente da Espiritualidade Superior.
- Círculo exotérico: adeptos das diversas escolas iniciáticas do oriente e do ocidente.
A Escola de Aprendizes do Evangelho (EAE), como porta de entrada para o círculo exotérico, fornece aos seus adeptos o conhecimento transmitido pelo círculo mesotérico. Cabe a cada adepto iniciar-se a si mesmo por meio do próprio esforço.
As escolas indicam métodos, práticas e caminhos de transformação moral, mas nenhuma delas pode fazer por um homem o que cabe a ele realizar. A reforma íntima, uma mudança no nível de ser, é um trabalho solitário que o aprendiz/servidor/discípulo deve fazer por si mesmo.
Luiz Pizarro
Centro Espírita Vinha de Luz, Regional SP-Centro