Caridade, amor e o reflexo no nosso corpo perispiritual
Na edição anterior de O Trevo, discorremos sobre a virtude mais difícil, a paciência, e outras virtudes que, aplicadas no dia a dia, conjuntamente ou não, moldam nosso avanço moral na eternidade.
Agora, discorremos sobre os reflexos que a prática das virtudes nos traz à alma. Para isto, vamos recapitular primeiro o que é o perispírito, o amor, a vontade e o pensamento, que são a base para as transformações de nossa roupagem semimaterial, o próprio perispírito.
O Perispírito
Partimos do entendimento de que o perispírito é uma substância semimaterial revestindo o espírito ou alma (que é o espírito encarnado) e é retirada do fluido universal correspondente a cada globo (“O Livro dos Espíritos”, livro segundo, cap. IV).
Acrescentamos ainda, através do cap. XIV de “A Gênese”, que o fluido cósmico universal é a matéria elementar do universo, e o perispírito é um dos produtos mais importantes do fluido cósmico, sendo uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência ou espírito.
A natureza desse envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do espírito, assim, conforme seja o próprio espírito mais ou menos purificado, seu perispírito se forma de partes mais puras ou mais grosseiras do fluido próprio ao mundo no qual se encarna.
Com isso, entendemos que espíritos mais atrasados possuem um perispírito mais denso, enquanto espíritos de maior moral o possuem de forma menos densa (livro “Perispírito” – Zimmermann – cap. II – Propriedades do Perispírito). Essa semimatéria, ou matéria quintessenciada, sofre também a ação da gravidade e, por isso, espíritos mais densos tendem a ficar nas zonas mais baixas da Terra conhecidas por umbrais ou abismos e não conseguem volitar.
Já espíritos moralizados ganham certa liberdade e menos influência da gravidade e transitam em zonas superiores de acordo com seu grau evolutivo, conforme nos comenta o livro “Roteiro” (cap. 6 – O Perispírito – de Chico Xavier e Emmanuel), “demorando-se na região que lhe é própria, em conformidade com seu peso específico”.
Agora, o que acarreta essa transformação na “densidade” (peso específico) do perispírito ao longo do tempo, das encarnações e do período errático? Para entendermos bem este conceito, precisamos revisitar também o que é o amor.
Um pouco de Amor
Encontramos a definição de amor nos livros da continuação da série “Harpas Eternas”, mais especificamente no livro “Cumes e Planícies”, de Hilarião de Monte Nebo (volume III, cap. Os pergaminhos de João). Na passagem em que Jesus está sendo consagrado, aos 20 anos de idade, em Mestre da Divina Sabedoria no grande santuário do Moab, e Jesus nos esclarece:
“Que é, pois, o amor, sentimento que vive e reina como um soberano na alma humana? Eu o defino como o laço invisível e suavíssimo que aproxima as almas umas às outras, que as estreita e as une, até colocá-las na mesma sintonia em suas vibrações mais íntimas, no pensar e no sentir. Algumas vezes é chamada de amizade e é uma virgem pura vestida de branco, levando na fronte uma coroa de rosas e de madressilvas. Seu coração, que se abre como um lótus nas águas serenas, não albergou jamais a falsidade, a deslealdade e o engano. Comparte a felicidade dos felizes e enxuga o pranto dos que choram.”
...e segue detalhando a amizade e o amor de uma forma muito delicada, que não compete neste momento transcrever, mas fica o convite para a leitura do livro.
O passe
Pois bem, devemos agora recorrer à memória para lembrar qual o fundamento do passe magnético e espiritual. Segundo Edgard Armond, no livro “Passes e Radiações” – cap. 4:
“O Espírito, utilizando-se da Energia (fluido universal, energia cósmica), age sobre a Matéria, provocando reações e transformações de inúmeros aspectos e naturezas… A energia está sempre em movimento, condensando-se ou expandindo-se, formando correntes no seio da massa; no caso dos passes, o mesmo fenômeno se dá: o operador projeta correntes de fluidos mais finos e poderosos, que provocam transformações no movimento específico dos agrupamentos celulares do corpo denso ou do perispírito.”
Complementando, o passe é o fluxo do fluido cósmico universal e o conhecemos bem pelos trabalhos nos centros espíritas. Mas o passe em si existe há milênios nas diversas formas de interação humana no bem, da bênção de uma avó, ao beijo de uma mãe, ao abraço carinhoso de um pai, um parente, um amigo, até um bom pensamento para alguém.
Quanto maior o amor, maior a intensidade de atração do fluido cósmico benigno que é direcionado pela vontade e pelo pensamento para alguém. Com o tempo, ele proporciona mais leveza e brilho ao perispírito.
A vontade e o pensamento
Essas interações que fazem movimentar o fluido cósmico universal podem ser direcionadas pela vontade e pensamento. Assim, nos diz o item 14 do cap. Os Fluidos, do livro “A Gênese”:
“Os espíritos agem sobre os fluidos espirituais... com o auxílio do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os espíritos aquilo que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a tais fluidos esta ou aquela direção; eles o aglomeram, os combinam ou dispersam; formam com esses materiais, conjuntos que tenham uma aparência, uma forma, uma cor determinada...”
Agora, juntando tudo...
Assim, quanto maior o amor, maior a intensidade de atração desse fluido cósmico benigno que é direcionado pela vontade e pelo pensamento para alguém, e atravessa nosso perispírito e com o tempo de trabalho no bem, de consolidação de virtudes, faz uma espécie de “limpeza” semimaterial deste nosso perispírito, reduzindo suas características semimateriais. Assim, proporciona ao perispírito mais leveza, brilho, liberdade e, ao próprio espírito, acesso à intuição.
Veja que interessante: esse perispírito, cada vez mais leve, obstrui cada vez menos também o acesso ao fluido cósmico mais sutil, onde espíritos mais elevados transmitem o pensamento mais alinhado aos desígnios divinos e, com isso, a intuição vai se expandindo.
Não é, definitivamente, um processo rápido, mas é transformador. Como forma de comparação simples, podemos imaginar o processo inverso daqueles filtros de água de barro antigos, onde o refil do filtro, como o perispírito, vai aos poucos sendo modificado após muito tempo de uso. Tudo depende da qualidade da água que entra e da quantidade utilizada. No livro de Martins Peralva, “O Pensamento”, de Emmanuel, temos no cap. 3 – Perispírito – que:
“as alterações perispirituais processam-se gradualmente, acompanhando a evolução espiritual, que é, como todos sabem, muito lenta.”
Podemos então dar um nome a essas interações: Caridade! E na questão 886 de “O Livro dos Espíritos” temos o verdadeiro sentido dessa palavra, como a entendia nosso mestre Jesus: é a “benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias e o perdão das ofensas”.
Herculano Pires complementa ainda que o amor e a caridade são o complemento da Lei de Justiça, porque amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”.
Portanto, quando somos chamados ao trabalho cristão seja no centro espírita, no nosso próprio lar, no trabalho, podemos entender que, sem o amor, por menor que seja, o único fluido a ser doado, quando muito, será o fluido denso do nosso próprio corpo. Nesse caso, os benefícios, se houverem, serão ínfimos ou mesmo nulos, e a nossa evolução poderá ficar estagnada.
Apenas a nossa própria vontade desenvolvida em trabalho de caridade poderá despertar esse amor que é aplicado no trabalho cristão, nos permitindo crescer e galgar lugares mais elevados na evolução.
Temos, então, que a máxima espírita “Fora da Caridade não há Salvação”, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – cap. XV, nos remete para além da questão moral, mas também ao reflexo no nosso corpo perispiritual e ao conhecimento mais integrado das Leis Divinas nestes mundos material e espiritual. Tudo isso foi lembrado pelo Apóstolo dos gentios que, com sabedoria, nos ensinou há cerca de 2.000 anos em 1 Coríntios 13:1-13:
Ainda que tivesse o dom de profecia,
o conhecimento de todos os mistérios
e toda a ciência,
ainda que tivesse toda a fé,
se não tivesse a caridade,
nada seria.
Mauro Iwanow é da Equipe de O Trevo