
Aprendi ao longo da vida que desafios são dificuldades encaradas como oportunidades. Pode-se dizer que determinado trabalho ou tarefa é difícil, ou pode-se dizer que é um belo desafio, uma oportunidade de crescimento. A Mocidade é uma parte essencial da minha vida e quanto mais me envolvo nas equipes, eventos e reuniões, mais percebo que o trabalho é repleto de desafios. E que sorte a nossa!
Atualmente, observamos um esvaziamento das casas espíritas, especialmente pelos jovens. Segundo o último Censo (2023), a idade média das pessoas voluntárias no movimento espírita está acima dos 50 anos. Isso é reflexo de uma transformação no perfil demográfico brasileiro, cada vez mais velho, mas também imprime discussões pertinentes para nossa reflexão enquanto coletivo.
Na última reunião de coordenação da Mocidade, questionamos como as lideranças de boa parte das Regionais entendem essa diminuição da presença da juventude nas casas. Os relatos são diversos e trazem muito mais questionamentos do que respostas.
Autonomia e protagonismo juvenil
O primeiro ponto levantado é um desafio antigo do movimento: o impasse da autonomia. Muitas diretorias não veem nos jovens a seriedade necessária para assumir responsabilidades no centro espírita e, nesse sentido, sem essa virtude importante, não veem a possibilidade de dividir a liderança da própria casa.
Nosso questionamento é: o que se espera do movimento daqui 20 ou 30 anos? Onde estarão as figuras que são referência hoje? Muitos dizem, mesmo fora do Espiritismo, que o futuro é todo das crianças, e penso que um dos exercícios mais importantes do nosso tempo é aprender a passar o bastão. Precisamos abrir mão de personalismos e deixar que o trabalho ganhe outras características, mas sem perder sua essência.
Jovens e o interesse pela Doutrina
Um outro ponto levantado, que se relaciona ao anterior, questiona um certo juízo sobre o que a juventude é ou não capaz de fazer. Vejo esse ponto como um ciclo de questionamentos: as lideranças atuais oferecem ao trabalho toda sua experiência e conhecimento, tudo o que já deu certo e o que deu errado; a juventude, por outro lado, oferece a inovação, a ousadia para tentar e arriscar, mesmo que dê tudo errado, e a energia de quem está começando e ainda não conhece todos os obstáculos.
O que me parece ideal é uma junção de ambas as forças, com o reconhecimento de que não há certos e errados. Afinal, estamos todos buscando o mesmo caminho com o Mestre Jesus.
Ainda temos um terceiro questionamento sobre se há um desinteresse dos jovens pela doutrina espírita. Ouso dizer que, por vezes, há desinteresse por ser uma pessoa de bem, afinal o que se vê nas ruas e nas redes é que o mal compensa. Aliás, esse ponto só reforça a importância do trabalho que fazemos de evangelização infantojuvenil.
Engajar para transformar
E aqui está um desafio gigantesco para todos nós: como tornar o movimento interessante para o jovem de hoje? O que vejo em todas as regionais, casas e turmas é a equipe de dirigentes literalmente se desdobrando para manter os alunos e alunas focados e entretidos durante os 90 minutos de aula. Estamos enfrentando dificuldade até mesmo nos Encontros da Mocidade, onde tudo é novidade, para que os jovens não fiquem entediados.
Por fim, refletimos muito sobre a qualidade acima da quantidade. Entre nós da Mocidade, está muito claro que uma turma com dois alunos engajados é muito mais valiosa para o movimento do que uma turma com 20 alunos que não estão interessados ou que estão buscando formas de criar um tumulto para seu próprio entretenimento.
“Por isso, reforço a importância de tocarmos cada coração individualmente, mesmo que nossos alunos não sigam sua jornada dentro da doutrina espírita.”
A juventude é rica de energia, de criatividade e de diversão. Absorver essas qualidades para nossas vidas, dentro e fora do movimento é uma injeção de ânimo para nossas mentes adultas demais, sérias demais, rígidas demais. Às vezes, o que a gente precisa mesmo é jogar "press-press" ou "ninja" antes de uma reunião, dançar ao som de um "Foliou" ou dar umas boas risadas com nossos amigos.
Nos desafios do dia a dia, desejo que a juventude nos renove e que o movimento cresça com a "garotada da Mocidade".
Bárbara Ruiz (Equipe Mocidade da Aliança), com colaboração das Coordenações Regionais de Mocidade.
Sobre a Autora
Bárbara Ruiz, da equipe Mocidade com colaboração das Coordenações Regionais.