A missão do esperanto: intercâmbio cultural nos dois planos

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"Estimadas senhoras e senhores! Eu os saúdo, queridos companheiros de ideal, irmãos e irmãs da grande família humana mundial..."

Com essas palavras, Ludoviko Lazaro Zamenhof inicia seu discurso no 1º Congresso Universal de Esperanto, em agosto de 1905, na cidade francesa de Boulogne-sur-Mer. Mas o que é esperanto?

Para responder a essa pergunta, façamos uma breve viagem no espaço e no tempo, descobrindo como o sonho de um jovem visionário se tornou uma ferramenta de compreensão fraternal entre as nações.

O nascimento

Estamos em 1859, na cidade de Bialystok, nordeste da Polônia, então sob domínio russo. No dia 15 de dezembro nasce Zamenhof, o primogênito de numerosos irmãos.

Apesar dos obstáculos financeiros, Marcos, um pai austero, e Rosália, uma mãe carinhosa, empenham-se para dar aos filhos uma boa educação.

Infância difícil

Desde pequeno, Zamenhof lida com o preconceito e a intolerância. Em sua cidade natal, judeus, poloneses, russos e alemães, cada um com seus costumes, línguas e crenças, vivem em permanente conflito. Perseguições e ataques são uma rotina, o que leva o menino a uma pergunta constante: – O que separa os homens?

Os estudos

Na adolescência, Zamenhof é um aluno exemplar, com notável inclinação ao aprendizado de idiomas. Além do polonês, fala russo, alemão e ídiche, e estuda ainda o hebraico, francês, italiano, inglês, grego e latim, dentre outros.

Eis aí a resposta. Para ele, uma das principais causas da incompreensão entre os homens é a diversidade linguística, que impede, desde sempre, qualquer possibilidade de entendimento.

Outra dúvida, porém, ocupa sua mente: – Que idioma poderia unir os homens?

Seria preciso que fosse simples, de fácil assimilação, mas as línguas já existentes são complexas e cheias de irregularidades. Diante disso, enfrenta momentos de desalento. Mas uma ideia surge, e seu íntimo é retomado de coragem.

A origem do esperanto

– Será possível a criação de um idioma? Será possível que ele tenha poucas regras? Será possível que seu vocabulário seja facilmente aprendido por todos?

A resposta é “sim”, e dessa forma seu sonho se converte em realidade.

Em 1878, aos 18 anos, Zamenhof já tem pronto o projeto de uma nova língua. A vida, contudo, traz inúmeros desafios, e é necessário combatê-los um a um até que, em 26 de julho de 1887, fosse finalmente lançado, em russo, o “Primeiro Manual da Língua Internacional”, também chamado “Unua Libro” (Primeiro Livro).

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Formado em oftalmologia, optou pelo pseudônimo Dr. Esperanto (“aquele que tem esperança”), e esse nome pas- sou a ser atribuído ao idioma.

Não demorou até que o “Primeiro Livro” fosse traduzido para outras línguas, encontrando seguidores em todos os continentes.

O esperanto hoje

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Atualmente, o esperanto é falado por milhões de pessoas. Incontáveis são os eventos realizados pelo mundo, e já foram mais de cem congressos internacionais desde 1905, interrompidos apenas durante o período das duas grandes guerras. O Brasil sediou dois desses encontros: um em 1981 (Brasília),outro em 2002(Fortaleza).

Ensinado em dezenas de universidades em diversos países, o esperanto permanece uma língua atuante nas mais variadas áreas de intercâmbio cultural, com uma vastíssima literatura e uma presença crescente em redes sociais e plataformas digitais.

Em 1954, a UNESCO reconhece o esperanto como um recurso eficaz para promover a aproximação dos povos e incentiva seu uso nos vários campos do conhecimento.

O esperanto e o Espiritismo

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Um dos primeiros textos a destacar a importância do esperanto no meio espírita foi o artigo “Espiritismo e Língua Internacional”, publicado em 1907 na Revista Científica e Moral do Espiritismo, de Gabriel Delanne.

O mesmo destaque se vê no artigo “O Esperanto e o Espiritismo”, publicado em 1909 na revista Reformador, da Federação Espírita Brasileira (FEB), que, desde meados de 1930, conta com um departamento voltado integralmente ao esperanto. Em 2009, uma edição especial comemorou o centenário de apoio ao idioma.

Espíritas esperantistas

Muitos foram, e ainda são, os eminentes espíritas espe- rantistas. Dentre os pioneiros, podemos citar Francisco Valdo- miro Lorenz, L.C. Porto Carreiro Neto e Ismael Gomes Braga.

Valdomiro Lorenz, médium admirável, falante de mais de cem idiomas e autor de dezenas de livros, entre eles “Esperanto sem Mestre”, escreveu, pelas mãos de Chico Xavier, “Esperanto como Revelação”, obra em que mostra os elevados trabalhos espirituais que antecederam a sublime tarefa de Zamenhof.

Porto Carreiro Neto, homem culto e devotado, teve papel significativo na tradução de vários livros para o esperanto, entre eles “O Livro dos Espíritos” e “Há dois mil anos”.

Ismael Gomes Braga, também tradutor e fervoroso propagador do idioma, em 1940 recebeu, por meio de Chico Xavier, uma mensagem de Emmanuel, que transmitiu a ele palavras de incentivo e reforçou que o esperanto é parte de um plano espiritual maior.

Após seu desencarne, ele mesmo se manifestou por meio do médium Divaldo Franco, em 1999, reafirmando a relevância do idioma no amanhecer de uma nova era.

Minha tragetória pessoal

Posso dizer que minha vivência espírita não teria sido a mesma não fosse o esperanto.

Quando aluno da EAE (Escola de Aprendizes do Evangelho), já possuía alguns volumes traduzidos, e o primeiro que li foi “Nosso Lar”.

A experiência foi profundamente marcante, e decidi ler em esperanto tudo o que pudesse encontrar.

Li toda a codificação de Kardec, e depois dela iniciei outras obras de fôlego, tais como “Paulo e Estêvão” e “Memórias de um Suicida”, sempre em esperanto.

Sobre esta última, com que emoção descobri, em suas páginas, que o esperanto é um dos mais importantes cursos oferecidos no plano espiritual na cidade universitária da Mansão da Esperança, cujo nome tem origem justamente no idioma.

Além da leitura desses e de outros títulos, tive, também, a alegria de ministrar algumas palestras e alguns cursos de esperanto nas casas em que sou voluntário, sentindo-me grato por poder difundir seus princípios e seus ideais.

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Considerações finais

Sem nunca ter desejado ocupar o lugar de qualquer idioma, o esperanto é o único que se pode afirmar verdadeiramente neutro, visto que não pertence a nenhum país e não está a serviço de nenhum interesse político ou econômico.

Composto somente de dezesseis regras básicas, é legítimo instrumento de interação entre as mais diferentes sociedades humanas.

Só posso, então, repetir as palavras de Emmanuel em sua mensagem intitulada “A missão do Esperanto”: “Sim, o Esperanto é lição de fraternidade. Aprendamo-la...”

Edson Roberto de Oliveira é do CEAE Formosa e do CEAE Manchester-Nice, na Regional São Paulo Leste.

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