‘Sem a Editora, os programas da Aliança ficariam desorganizados’
Entrevista com Eduardo Miyashiro, diretor-superintendente da Editora Aliança

Qual o legado da Editora Aliança e o que vem pela frente? Esse foi o tema da entrevista do diretor-superintendente da instituição, Eduardo Miyashiro, a O Trevo. Leia a seguir:
A Editora Aliança comemora 50 anos em 2024. Qual seu maior legado?
Logo que a Aliança foi criada se notou a necessidade de qualificar e padronizar o material didático dos nossos programas. O comandante Edgard Armond cedeu seus livros como ponto de partida. E outros foram criados a partir de anotações de sala de aula.
O legado que ficou é uma iniciativa que visa a colaboração, a qualidade e a padronização do conteúdo. Foi isso que permitiu que hoje a Aliança tenha 300 grupos com programas padronizados. Sem a Editora Aliança, cada Escola ia ter o seu material e nossos programas ficariam desorganizados.
Quais foram as principais mudanças na Editora Aliança ao longo do tempo?
Além da questão do material didático dos cursos, a editora tinha como tarefa publicar as obras literárias de Edgard Armond. Isso foi uma grande contribuição para o movimento espírita. E, por muito tempo, a Editora Aliança era vista como uma espécie de catálogo de Armond. Mas com a abertura para novos autores isso foi mudando. A publicação de uma série de obras de evangelização infantil teve um papel relevante, transformando em livros as “aulinhas” que antes estavam restritas a cópias mimeografadas.
Como foi a decisão de entrar na distribuição de livros?
Sempre acreditamos na importância da literatura espírita para o aprendizado e a difusão da doutrina, por isso, incentivamos a abertura de livrarias nos centros espíritas. O nosso lema é até hoje "em cada centro espírita, uma livraria; e em cada livraria, um novo foco de luz.”
E para alimentar essas livrarias não bastam livros da Editora Aliança. Você precisa ter os livros das outras editoras, da FEB, da Boa Nova, etc. A livraria precisa ter livros do Allan Kardec, do Chico Xavier, entre outros. Então, assumimos essa tarefa de distribuição e passamos a comprar livros junto às outras editoras espíritas e vender para as livrarias.
Mas esse é um negócio difícil, não?
Sim, é uma margem pequena, porque você fica no meio da cadeia, entre a editora e a livraria. As crises econômicas afetaram muito esse segmento, tanto que quando começamos existiam uns 10 ou 12 distribuidores de livros espíritas, hoje são apenas 3 ou 4. Mas conseguimos ser conhecidos não só pelas livrarias dos centros da Aliança, mas também pelos outros centros e com isso temos um mercado.
Hoje vocês são distribuidora, livraria e editora. Como é a divisão de atividades?
A distribuição é cerca de 40% do nosso faturamento, seguida pelos títulos próprios da editora (50%) e pela venda direta ao consumidor (10%).
As livrarias sofreram muito no Brasil. Até as grandes redes entraram em crise e a pandemia agravou as dificuldades. Como isso impactou a Editora Aliança?
Quando veio a pandemia, nós tivemos que enxugar a estrutura. Por mais que a editora seja uma instituição sem fins lucrativos, a gente precisa se ajustar para sobreviver.
Conseguimos perceber a ajuda da espiritualidade. Na pandemia, um título do Divaldo (“No Rumo do Mundo de Regeneração”) começou a vender muito. Ele sustentou as vendas da nossa distribuidora por vários meses. Agora estamos numa fase de buscar mais clientes e encontrar novos canais de venda.
O livro digital ajuda ou atrapalha a Editora Aliança?
Sentimos que são dois públicos diferentes: o que lê o livro em papel e o que gosta do e-book. Eles coexistem. Com o e-book conseguimos atender aos grupos da Aliança fora do Brasil. A entrega do livro físico para o exterior é muito cara e praticamente não existem publicações espíritas lá fora.
O que você enxerga como tendência no futuro?
Nós precisamos manter a mente aberta. A Aliança tem uma grande força com os programas padronizados. Mas isso não deve ser impedimento para a inovação. Porém, de vez em quando, sinto esse perigo no ar. O nosso conteúdo talvez não precise ser alterado, mas podemos precisar rever as formas para não perder a conexão com as pessoas.
Você pode dar algum exemplo mais específico?
O comportamento das pessoas mudou com a internet. Antes você saía de casa para comprar uma geladeira em uma loja das Casas Bahia. Hoje você pesquisa e compra pela internet. O centro espírita, até hoje, é buscado pela sua placa na porta ou por recomendação.
O ideal é que ele seja encontrado no Google. E não apenas seu endereço. A pessoa deveria buscar “estou triste e preciso de ajuda” e encontrar um centro espírita. E, no caso do livro espírita, deveria encontrar uma recomendação de leitura relacionada ao que buscou. Precisamos nos modernizar para entregar isso.