Uma visão de possibilidades

Alunos testam suas percepções por sentidos além da visão

No palco vibrante da existência humana, nossas almas são convidadas a novas descobertas a cada segundo, instigadas a aprender, a se moldar e a se relacionar umas com as outras em um exercício constante de apoio e compreensão mútua.

Como professor, vejo esse cenário refletindo-se de forma significativa na sala de aula, onde o entrelaçamento de crenças e culturas, assim como a diversidade de perspectivas e vivências, reforçam, sobremaneira, a relevância da sensibilidade e da inclusão.

Tomo aqui a liberdade de compartilhar uma de minhas experiências em uma turma de Escola de Aprendizes do Evangelho, quando fui designado a conduzir uma das aulas do programa.

Como habitualmente faço, após estudar o tema, preparei algumas imagens que serviriam de suporte às reflexões a serem propostas e, no dia agendado, reuni todo o material e me dirigi à casa espírita.

Lá chegando, por algum motivo que desconhecia naquele instante, tive dificuldade de ligar o computador ao projetor. Depois de várias tentativas sem sucesso, vi que o horário já se adiantava, e decidi não insistir, optando por prosseguir sem o auxílio das figuras previamente preparadas.

Ao observar a turma mais atentamente, pude compreender, não sem emoção, que tudo realmente tem uma razão de ser. Verifiquei que havia uma aluna e um aluno que demandavam maior cuidado de minha parte, isto é, ambos eram deficientes visuais. Foi então que constatei que o inconveniente com os equipamentos não foi, na verdade, um problema, mas uma oportunidade de aprimorar minhas habilidades como facilitador.

Se eu usasse as imagens, em grande medida excluiria esses dois alunos. Assim, diante dessa nova realidade, modifiquei de imediato minha abordagem e passei a descrever oralmente todas as ilustrações e conceitos que seriam originalmente apresentados por meio do projetor.

Todos na mesma condição

O fato de transformar as figuras em palavras não só exigiu que eu fosse mais claro e expressivo, como também proporcionou uma forma singular de ensino e aprendizado, uma vez que ninguém, nem eles, nem eu, teve acesso a nenhum conteúdo visual, o que nos colocou a todos na mesma posição, resultando em uma interação coletiva e solidária.

A serenidade e o envolvimento na condução da aula foram fundamentais para garantir que os dois alunos não se sentissem diferentes ou excluídos em nenhuma ocasião. Tratei-os com o mesmo respeito e atenção que dedicava aos demais, com base sempre na igualdade de expectativas. Essa postura não apenas promoveu um espaço harmonioso de integração, mas ainda realçou a importância de ver as pessoas muito além de suas restrições físicas, reconhecendo suas potencialidades.

Concluir aquela aula foi um momento profundamente gratificante. Saí de lá com a certeza de que incluir não é somente uma questão de adaptar materiais ou metodologias, mas de cultivar um ambiente onde todos se sintam valorizados e capazes de contribuir, independentemente de suas limitações.

Esse dia tornou-se uma lição valiosa de empatia e resiliência, que se repetiu em um novo encontro, com a mesma turma, algumas semanas depois, quando pude, mais uma vez, superar obstáculos pessoais na tarefa de facilitador espírita, com a convicção de que, na educação e na vida, cada passo em prol da inclusão é um avanço em direção a um mundo mais justo e acolhedor.

Edson Roberto de Oliveira é do CEAE Formosa e CEAE Manchester-Nice, da Regional São Paulo Leste

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