Um caminho para o perdão

Plenitude no ato de perdoar

O perdão é uma batalha diária de construção interna. Perdoar incondicionalmente talvez ainda não seja uma virtude presente no nosso coração. Mas isso não significa que devemos nos culpar por não estarmos na “faculdade espiritual” se ainda não completamos nem o “ensino fundamental” nesse quesito.

É fundamental construir aos poucos o entendimento da vida e do mundo. Podemos, já neste degrau evolutivo em que estamos, perdoar pequenas coisas que não nos afetam mais. É fácil perceber que perdoamos esses pequenos problemas diários, pois lembramos e não ficamos magoados com a pessoa, a situação, tendo um entendimento do ocorrido e desculpando sinceramente um pisão no pé, um grito de raiva, uma bronca ou uma falta de gentileza.

Entretanto, a vida é mais desafiadora e situações mais fortes podem nos testar. Agressão, difamação, traição, estelionato ou morte podem passar pela nossa vida como uma prova ou expiação.

Daí vem a raiva, o sentimento de revolta, a falta de entendimento e, às vezes, até a necessidade de vingança. Tudo isso é natural se não conhecermos as leis divinas. Mas, uma vez cientes que estamos de como funciona a base do universo, nosso entendimento deve se ampliar e o sentimento ser dominado pela razão. E isso pode demandar mais de uma encarnação.

Quem teve a possibilidade de fazer o Curso de Médiuns e trabalhar nos grupos mediúnicos do P3B, ou desobsessão, pode vislumbrar que alguns processos mal resolvidos de raiva, vingança e falta de perdão podem durar séculos e atrapalhar a evolução natural tanto de quem praticou o erro, mas principalmente de quem não soube perdoar. Casos existem de mais de 2.000 anos de corações endurecidos, cansados ou revoltados. Muitos livros espíritas também nos trazem histórias assim.

Os grupos mediúnicos que trabalham conjuntamente nos dois lados da vida, material e espiritual, funcionam como pescadores e “médicos” de almas aflitas, desatando nós de envolvimentos sentimentais para que as relações, mentes e corações possam avançar no entendimento das leis divinas, na fé, na esperança e na caridade.

Como construir o perdão?

Então, como avançar de fase e aprender a perdoar de forma incondicional? Não existe apenas um caminho. Podemos citar, por exemplo, a reencarnação e a própria convivência em família.

Podemos começar com pequenas ações que pelo menos bloqueiam a ampliação do mal e nos remetem a praticar o que Jesus nos solicitou em Lucas 9:23: “renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me”. Isso significa o mesmo que dizer: “aceite sem reclamar os problemas advindos da vida e exemplifique como ele exemplificou.”

Na página a seguir, listamos sete passos para buscar o perdão, inspirados nos ensinamentos de Jesus.

Estes são caminhos dentre muitos para o perdão. A misericórdia divina se faz através de seus servidores que, não por acaso, somos nós mesmos e nossos irmãos mais velhos. Estamos longe da perfeição, mas este mundo material é criado para isto mesmo, assim na nossa imperfeição podemos avançar por menor que seja o gesto, a gentileza e a vontade.

Sabemos que estamos amparados por espíritos vivenciados, que já sofreram em inúmeras encarnações próprias, e por seres amados. Com a razão, podemos manter os sentimentos negativos mais controlados, ampliando a serenidade própria e do nosso entorno, permitindo assim que outros espíritos ainda mais evoluídos possam interagir, através desse entorno propício, numa corrente descendente de amor que a própria expressão divina encontra como meios de se manifestar.

Assim, aquele pequeno pensamento positivo, aquela minúscula esperança, aquele gesto fraternal, por mais insignificante que seja, numa mínima fração de segundo, permite que a luz divina invada as portas do nosso coração.

De qualquer lugar em que estejamos, podemos um dia evoluir para ser um candeeiro aceso, permitindo também a amigos habilitados os trabalhos de socorro, redenção e perdão. Serve e confia!

7 passos para aprender a perdoar

Aprender a perdoar faz parte da nossa caminhada evolutiva. E o nosso guia é Jesus. Para nos ajudar nessa empreitada, listamos sete passos para buscar o perdão.

1º passo: não vingar
No sentido de não se praticar a ação exterior de vingança. O primeiro passo do perdão é tentar não perpetuar o problema revidando. Para muitos, é algo muito difícil de praticar, mas para outros já faz parte da vida.

2º passo: não julgar
O entendimento de que o julgamento é feito pelo Pai e não por nós também já deve ser um aprendizado inerente ao espírita. Mesmo assim, às vezes julgamos o próximo, o que poderá ampliar nossa dívida para com as leis divinas, uma vez que não temos acesso ao quadro maior dos acontecimentos.

3º passo: não desejar o mal
Bom… já conseguimos não nos vingar e tentamos não julgar. Agora temos que avançar no esforço próprio de não desejar o mal à pessoa que nos ofendeu.
Veja, não estamos falando em desejar o bem, apenas em não desejar o mal, deixar que a vida se encarregue do ocorrido, evitar sentimentos e pensamentos negativos para a pessoa. Esta etapa é mais difícil, pois temos que lidar com ações que envolvem nosso próprio interior.

4º passo: esquecer
É possível esquecer uma ofensa? Não. Sabemos que nosso perispírito registra tudo e lembraremos para sempre de momentos marcantes da nossa vida atual. O segredo está em trabalhar para que esta memória não afete nossos sentimentos.
Assim como conseguimos deixar de nos incomodar com as pequenas desavenças, um dia poderemos “esquecer” quase imediatamente as grandes também.
Este passo é bastante trabalhoso e pode levar mais de uma encarnação… e tudo bem. Uma das ferramentas mais eficientes de Deus, nosso Pai, é o tempo – e ela pode funcionar com prazos diferentes para cada um. Muitas vezes avançamos para o próximo passo sem terminar este aqui, como num pulo, mas avançamos.

5º passo: rezar pela pessoa
Agora que conseguimos não nos vingar, não julgar, não desejar o mal e tentamos “esquecer”, vamos avançar um pouco mais profundamente na caridade desejando que Deus, Jesus e os bons espíritos iluminem, amparem e conduzam ao melhor caminho nosso desafeto.
Sim! É muito difícil dar esse passo! Mas, se fosse fácil, Jesus nem precisaria dedicar seu precioso tempo entre nós, quando encarnado, para nos trazer este ensinamento sobre o perdão. Assim, novamente, o “negar-se a si mesmo” é o ponto-chave deste passo.
Suplantar nossos desejos, sentimentos e pensamentos lembrando do irmão tão ou mais necessitado e rogando de coração que Deus o ilumine. Difícil, para poucos, mas podemos tentar uma, duas, três… sete… setenta vezes sete até conseguir. É a vontade! (Pensamento e Vida, de Chico Xavier e Emmanuel, capítulo 2).

6º passo: ajudar
Saímos então do passo anterior, da vontade, do pensamento, do desejo de ajudar para a prática em si. Podemos ainda não ter “esquecido”, mas os sentimentos retornam mais amenos. Assim, já temos a capacidade de apoiar nosso semelhante independente do que ele tenha feito na vida conosco, consigo próprio ou com outros.
Um bom treino para este passo são os atendimentos no CVV (Centro de Valorização da Vida). A prática da caridade é o caminho, que já nos mostraram inúmeras vezes. Se conseguirmos avançar nos passos anteriores, este passo é quase uma consequência natural do processo e só depende de nós mesmos para colocar em ação. É a conciliação! (Pão Nosso, de Chico Xavier e Emmanuel, capítulo 120).

7º passo: nos perdoar
Este é, sem dúvida, o passo mais difícil de todos e o último: o autoperdão. Por incrível que pareça, perdoar-se é muitas vezes mais difícil do que aos outros. O constrangimento do erro cometido ao não praticar os passos anteriores por longos períodos nos leva a sermos implacáveis com nós mesmos e entrarmos por um caminho muitas vezes mais complicado ainda, como a depressão.
Quando percebemos o tempo perdido numa caminhada de perdão estagnada, ficamos inconformados e nossa consciência pesa. Perdoar-se pode levar muito tempo também, às vezes algumas encarnações, ou séculos mesmo. É comum vermos irmãos obsessores sendo atendidos nos trabalhos de P3B, e muitas vezes, no final desses processos de desobsessão, entenderem não serem merecedores da misericórdia divina (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 10).
Nos perdoar, levantando e começando um novo dia quantas vezes forem necessárias, buscando sempre ampliar nossa consciência das leis divinas, na vontade de melhorar sempre, é a continuação deste caminho, os passos seguintes a percorrer nesta estrada de amor e compaixão. Perdão! (O Pensamento de Emmanuel, de Martins Peralva, capítulo 24).

Mauro Iwanow Cianciarullo é da equipe de O Trevo e da Casa Espírita Evangelho e Amor – Regional Oeste – São Paulo (SP)

Navegue:

Compartilhe: