As quatro estações

Uma criança segura uma flor de margarida.
“A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, porque nós os humanos não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que necessitamos?”
Khalil Gibran

A sensibilidade poética de Gibran nos conduz para uma reflexão muito pertinente sobre os ciclos da nossa existência. Utilizando de uma simbologia com os elementos da natureza, busca despertar o entendimento de que a vida é dinâmica e mutável. Que nossa jornada pessoal de autoconhecimento se efetiva na alternância de experiências peculiares às nossas necessidades renovadoras. Assim podemos dizer que simbolicamente experienciamos as estações.

A convicção se apresenta como elemento de base para a transição das estações. É quando compreendemos a impermanência das etapas da vida, nos permitindo crescer, fortalecer e ampliar os nossos recursos internos. É olhar para o horizonte vislumbrando com fé a eternidade do existir.

Num inverno rigoroso, quando a vida bate forte com ventos cortantes, paisagens nubladas e frias, somos convidados a um momento de interiorização para desvelar nossas competências e talentos pessoais, que quando identificados otimizam as nossas possibilidades de enfrentamento. A planta no inverno agrega forças para desabrochar na primavera. Na vida, assim como no inverno rigoroso e doloroso, nos protegemos aquecendo o nosso campo íntimo com o autoamor e desvendando a nós mesmos.

Na primavera, florescemos, porque no inverno trabalhamos em nossa verdadeira essência, o nosso espírito. Florescemos com renovado vigor e novas cores, fruto dos recursos íntimos que despertamos.

No verão, nos fortalecemos, aproveitando a luminosidade. É o momento da busca de conhecimento para clarear o nosso conteúdo pessoal, agregando sabedoria ao existir, porque compreendemos que somos seres em construção.

E no outono, percebemos que precisamos dispensar as folhas secas, aqueles conteúdos equivocados que já não se alinham com as transformações que realizamos em nosso espírito.

A beleza da transformação

Vale também destacar a sabedoria da natureza, que mesmo com a constante alternância das estações, a planta já não será a mesma.

Muitas vezes em nosso existir nos cristalizamos em uma estação, por conta de nossos medos e apegos, fortalecidos por crenças limitantes, baseadas no orgulho e egoísmo, que turvam o nosso entendimento da transcendência do viver. Acabam por nos fixar no inverno rigoroso, sob um olhar vitimista, de abandono e castigo.

Transitar de uma estação para outra é aceitar que os ciclos da vida requerem um fundamento mais amplo para o conceito do existir. Esse fundamento tem que ser construído sobre bases sólidas, não materiais, que são perenes e pertinentes ao tempo da vida terrena. Essa base tem que ser infundida no cerne do espírito, movimentando o campo dos sentimentos para uma melhor compreensão de si, do outro e do mundo.

Jesus quando esteve entre nós, deixou traçado o caminho para que pudéssemos acessar a nossa primavera pessoal, para que pudéssemos encontrar o caminho, a verdade e a vida para qual estamos destinados como filhos de Deus.

Nosso Mestre, através de sua exemplificação, traduziu as verdades divinas em ações concretas, possíveis de serem assimiladas, fundindo em elemento único o templo e a vida cotidiana, ampliando o conceito de religiosidade.

Assim, transitar de uma estação para outra é condição natural e educativa em nossas vidas, favorecendo o contínuo aperfeiçoamento, que é gradativo e libertador, para a construção do homem novo.

Carmen Heloisa Armani é da Equipe de O Trevo

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